
Não é fácil ver este filme. De um lado a beleza espantosa da paisagem austríaca; a vida de uma família de agricultores passada no trabalho árduo mas sadio e feliz. Um pai que se recusa a prestar culto à grade Besta Apocalíptica, Adolf Hitler. Depois, e ainda vou nos começos, o ostracismo da pequena comunidade: a consciência, de um lado; a família e os filhos pequenos, do outro. Sempre presente, o dedo de Terrence Malik com a beleza terna da natureza, dos raios de sol, da vastidão das montanhas; os diálogos esparsos deixando tanto espaço para o subentendido.
Como teria sido para o escriba ter vivido em tempos tão sombrios, tempos onde era impossível estar em “cima do muro”, sem tomar partido? Como nos fizeram acreditar que o mundo é tão pacífico e cheio de gorduras como estes tempos que vivemos? Como despertar para a consciência que talvez o mundo seja um lugar perigoso, violento, onde se é chamado a tomar posição, a favor ou contra uma qualquer Besta Apocalíptica? Que faremos ao acumulado de gestos de amor, de paciente construção dos dias, da vontade de a tudo conferir um sentido e uma direção? “Comiam, bebiam, davam-se em casamento até que caiu sobre eles aquele dia” – eis a frase que me persegue como uma sombra.