
O tempo é finito, leio. Porque não temos consciência disso? Penso que é pela mesma razão pela qual vivemos de forma néscia, insensata. Passo a explicar: vivemos mergulhados nas contingências do momento presente, não acumulamos experiências relativamente a acontecimentos passados, não “aprendemos a lição”. O barco vai avançando em direção ao ocaso, mas os seus tripulantes continuam distraídos e absorvidos com as minudências que se vão passando a bordo.
Não temos consciência de como o nosso tempo é finito. Não aprendemos que a vida é frágil incerta e caprichosa. Não aproveitamos os nosso dias para nos aprimorarmos pessoalmente, para crescermos como seres humanos. Ao invés, focamo-nos em mais este “scroll”, mais esta novidade – coisas que têm o seu lugar, mas não podem ter o lugar. Às vezes, parece-me que a própria vida se ri de nós porque teimamos, de forma insensata, a não aprender com a passagem do tempo. Está escondido a nossos próprios olhos o ciclo vicioso das nossas vidas, sem que queiramos em algum momento sair do labirinto.
Desejo profundamente adquirir a sabedoria. Quando esta manhã repetia em voz alta as palavras de fogo de Santa Teresa: “Que nada te perturbe/ Que nada te surpreenda/ tudo passa/ Deus não muda/ a paciência tudo alcança”, refletia o que significaria para mim se elas me estivessem “entranhadas”. Tomo por exemplo o verso: “tudo passa”. A pregnância desta palavra é quase vertiginosa. Posso ter a convicção racional que ela é verdadeira, mas não tenho a apreensão visceral de como ela é verdadeira. Todo o ser humano sábio vive a partir daí. Tomo como exemplo o dia que se abre diante de mim: o aborrecimento ou o contratempo que virá, há-de passar. Devo lidar com ele, não a partir da sua macro valorização, mas como um ponto na minha existência que rapidamente será engolido na sua insignificância, como uma cidade que fica cada vez mais para trás.
Pergunto-me porque será que nós humanos não adquirimos a sabedoria, fruto da experiência. Pelo menos, porque será difícil que as verdades mais importantes sobre a vida, e que estão preservadas pelas grandes tradições religiosas e filosóficas da humanidade, por que razão, dizia, somos, como diz o salmo “como o jumento que não se deixa domar”?
Eu não peço mais nada para a minha vida, senão a capacidade de aprender com o passar dos meus dias. Extrair os ensinamentos que os acontecimentos e o passar inexorável dos dias me vão trazendo. “Tudo passa”: incorporar esta verdade indesmentível no âmago da minha forma de entender a vida, não seria uma forma de libertação? Em abono da verdade, também pode ser um processo de profunda angústia quando o pedaço de madeira a que me procuro agarrar, afinal nada é. De todos os modos é uma frase verdadeira e, por isso, digna de ser assimilada pelas fímbrias mais ocultas da minha alma.
E agora, toca a acudir aos desafios deste dia.