
Man gets tired, spirit don't Man surrenders, spirit won't Man crawls, spirit flies Spirit lives when man dies Man seems, spirit is Man dreams, spirit lives Man is tethered, spirit is free What spirit is man can be
Há muitos anos que uma das minhas bandas preferidas são, como um ou outro post deste blogue atesta, os Waterboys.
Gosto de muitas das suas músicas. Uma delas chama-se “Spirit”. No final destas linhas está o link para a música. A letra joga com o binómio Homem/ Espírito. O homem cansa-se, desiste, gatinha, morre é uma aparência, sonha, vive amarrado. O Espírito não se fatiga, nunca desiste, voa, vive, é livre.
Quem é o homem sabemos nós, mas quem é este espírito? Sabemos que é um princípio imaterial que não pode ser visto; ultrapassa as categorias do espaço e do tempo, não sofre deterioração nem perda de propriedades. Está plenamente vivo, é perseverante, infatigável, genuíno, autêntico, senhor dos ares e dos espaços. Haverá um travo platónico, associando o Espírito ao mundo ideal das formas?
Eis duas entidades distintas. A primeira, associada à nossa condição “criatural” – é caduca e os seus dias finitos. Não é a realidade, mas tão-só um simulacro. O ser humano aparece preso, não consegue levantar-se e fincar os pés. Porquê este retrato da condição humana? Seremos efetivamente assim?
Gosto da música e, particularmente da letra, pois descreve a condição humana na sua crueza e verdade. Mais digo (como se escreve nas atas) que é próprio da nossa condição aferir o relativo pelo absoluto. Dizemos: “Não fui verdadeiro”; “Mr. P é um preguiçoso”; “Estou cansado”; “Viveu poucos anos”; “Manteve-se agarrado aquela relação”. Estes factos podiam ser apenas um “It is what it is”, mas formamos juízos que apontam para uma falta ou falha por relação a uma totalidade. E esse é o mundo do Espírito, do absoluto, da inteireza, do descanso, da verdade, da essência.
Assim, a nossa condição é limitada, fugaz, alienada, caduca, mas aspiramos ascender a uma outra condição de força, de vida, de liberdade, de realização plena.
E é aqui que a música termina com a feliz notícia: aquilo que o espírito é o homem pode ser. Não há o eterno retorno ao igual, não estamos presos no labirinto e as nossas asas não estão destinadas a derreter, se quisermos voar como Ícaro.
Como fazemos esta passagem? Diremos que o céu é o limite? Diremos ao nosso semelhante: tu podes ser o que quiseres? Anunciaremos ao mundo que a saída do labirinto apenas depende de nós?
Talvez o espírito seja pervasivo. Quem sabe se está na vastidão dos ares e dos mares, talvez percorra a terra e, com a sua fina inteligência e atrevimento, procure a fenda no coração da vida, sempre pronto a passar-nos da noite para o dia luminoso.
PS: Ah! vale a pena ouvir a voz do Mike Scott e o solo de piano.