Um “coach” para o espírito

Ouço uma entrevista com o treinador do nadador medalhado Michael Phelps. Num livro que escreveu sobre o caminho para o sucesso, desenvolve aquilo que designa por “O método“: um conjunto de passos para atingir um objetivo, preferentemente um grande objetivo. Fico sempre com uma primeira impressão de culpa por não ter nada na minha vida que se assemelhe a um empreendimento deste calibre: definir um grande objetivo e orientar a vida, os dias, meses e anos em função desse mesmo objetivo. Mesmo assim, reconheço o valor de quem se lança nessa empreitada. Calculo que a vida ganhe um sabor, um sentido de urgência e de desafio que deixa para trás a rotina, os prazeres e confortos de baixa estirpe bem como a autoindulgência.

Creio que no reino da vida espiritual, poderiam ser aproveitados ou recuperados certos princípios que estes “coaches” modernos aplicam aos seus pupilos. Desde logo, a noção de “coach“: alguém que conhece o seu pupilo, com quem conversa frequentemente e que o ajuda a superar-se, a melhorar, a não desanimar diante das dificuldades. Usando a terminologia da vida espiritual, não deverá ou deveria ser esse o papel de um “diretor espiritual” ou de um “pai espiritual“, segundo a mais feliz expressão usada na Igreja Ortodoxa? Apesar da bela frase de Bernanos (que remonta a santa Teresinha) de que “Tout est grace“, há uma parte que nos compete a nós fazer para que essa graça irrigue a nossa vida. É aquilo que antigamente chamávamos “ascese“. Hoje, a palavra está fora de moda e, mandada pela janela fora a necessidade de treinarmos no “ginásio espiritual“. Isto é, parece não ser importante ter objetivos, metas e desafios, disciplinas no reino da vida espiritual. Tudo é mole, piedoso, açucarado. Se olharmos para os santos, para os padres da Igreja, a sua vida estava repleta de disciplina, de ações e práticas a fim de se prepararem e disponibilizarem para a ação de Deus em nós e para a batalha.

Somos uma geração de gente “morna” e a sociedade com a sua panóplia de distrações e pequenos confortos lá se vai encarregando de nos adormecer e anestesiar.

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