Li um artigo sobre as comemorações dos cinquenta anos da morte de Picasso. Aí se refere o carácter explosivo e torrencial da sua criatividade; os números absolutamente impressionantes das suas obras; a capacidade de renovação e inovação da arte que perseguiu.
Sempre que leio coisas sobre artistas, vem-me à cabeça a pergunta: onde está a Igreja, ou a arte cristã, nestes momentos? Porque consideram tantos artistas a religião como conservadora senão mesmo repressiva da criatividade, da explosão das forças inconscientes, da capacidade de arriscar novas linguagens? É claro que, olhando para a História da Igreja no século XIX e em parte do século XX é fácil perceber como a Igreja assumia em muitas das suas expressões um anelo restauracionista e um juízo severo e zangado diante da modernidade.
A minha pergunta não está feita para ser respondida pela análise histórica ou da sociologia das organizações. Parte, antes, da constatação que a Igreja é uma realidade teândrica, isto é simultaneamente humana e divina. Ela é habitada e guiada pelo Espírito de Cristo Ressuscitado. E esta verdade deveria ter como consequência a abertura ao novo, a alegria, a criatividade, a transformação do mundo do inconsciente em forças de amor e generosidade.
Deveria ser a Igreja a primeira a viver do grito: “Não tenhas medo” de arriscar, de inovar, de dialogar, de propor os ideais do “Bonum, Belum, Verum“. Em suma, se vivêssemos “do Espírito e pelo Espírito” que comunidade de seguidores de Jesus seríamos e que diálogo e criatividade traríamos ao mundo das artes?