A rede

A telefonou a B. Contou-lhe que C (três filhas, sem marido) tinha conseguido arrendar uma casa mas estava totalmente vazia. B começou “a rede”: em poucos dias mais de trinta pessoas remexem nas suas caixas, descobrem coisas e loisas que não necessitam. Aí vem uma cama, um frigorífico e uma máquina de lavar roupa.

Os dias, previsíveis, rotineiros, murados, são alegre e voluntariosamente abalados: telefonemas para organizar as entregas, dias para recolha dos eletrodomésticos, ajudas de pessoas que não conhecem A, B ou C. Faz-se o milagre da multiplicação e da partilha dos bens e do amor. Afinal havia tanta coisa atirada para um canto, esquecida e que pode ajudar!

No ritmo monótono e cadenciado dos dias irrompe um sentido de urgência e de missão: é que a casa nada tem, está vazia, ainda sem água e sem luz! Para quem dá, acrescenta-se sentido ao sentido da vida. Mais alegria, mais luz, mais amor.

Há abundante heroísmo e generosidade, ocultos, discretos, maravilhosos. Cuidado com os julgamentos apressados e soturnos  sobre as pessoas ou o nosso mundo: vejo uma profusão de fios invisíveis, luminosos e frágeis  que sustentam a barca por onde vamos.

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