O tempo da quaresma é o tempo para a educação do desejo. É tempo de combate, de regresso, de regeneração.
A nossa alma é vagabunda, insensata e néscia. Viver é correr riscos: de dispersão, de troca de prioridades, de pulsão de adoração de ídolos no alto dos montes.
“Volta, Israel, ao Senhor teu Deus.” A primeira leitura da liturgia de hoje do profeta Joel é muito expressiva: regressa ao Senhor com jejuns, com lágrimas, com lamentações, com um coração quebrado. Porquê? Porque nos afastámos da fonte e, assim, escolhemos o caminho do mal.
Agora, é tempo de voltar ao Senhor. Para isso, é pouca coisa tão só assumir uma atitude piedosa de arrependimento. É preciso um programa de regresso, como o adicto que se arrima a um programa de recuperação. Sem esse programa, sem passos reais, tangíveis, dolorosos, poderemos sossegar a consciência mas não entraremos na terra da promessa. Foi longo o caminho que nos foi afastando de Deus, precisamos agora de dez vezes mais fervor para regressar.
É pena que se tenha desdenhado das práticas espirituais da Quaresma: a intensificação da oração, do jejum e da esmola. Para muitos de nós, os esclarecidos do século XXI, serão práticas desacreditadas. Para os santos, os padres da Igreja e os místicos, que tinham a lúcida e dolorosa consciência do poder do mal, eram remédios vitais para encetar o caminho da regeneração.
Gostava de poder chegar às festas pascais preparado para receber essa vida nova, eu e toda essa espantosa miríade de batizados que pelo orbe terrestre procuram humildemente tornar Deus tangível.
Vamos a isso!…
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