A antífona de entrada para a Eucaristia desta semana: “Eu confio, Senhor, na tua bondade.”
Que significa confiar em Deus? Ou, antes ainda, o que significa confiar? Seguramente não é uma atitude cerebral, um ato racional. Confiar implica mais do que isso.
Confiar também não é uma “fezada“, um desejo irracional.
Confiar em Deus é entregar-lhe a minha fé, fazer fé nele. É um ato de rendição. Aceito que ele sabe, pode, decide, governa, reina. Aceito pulverizar as quimeras com as quais creio ser eu mesmo o rei, o senhor, aquele que tudo sabe, essa mentira em que laboriosamente invisto desde tempos imemoriais.
Se entrego a Deus a minha confiança, começo por fazer um ato de rendição. E isso é tremendamente difícil porque “as cebolas do Egito” são infinitamente mais saborosas do que caminhar na noite do deserto, apenas com uma coluna de fogo por guia.
Deste modo, a confiança não é tanto “acreditar” em Deus mas “entregar a minha fé“. Não posso acreditar em Deus da mesma forma que acredito que esta cadeira está aqui ao meu lado. Saber que esta cadeira está aqui muda nada. Entregar a minha confiança a Deus muda tudo.
Dizer “Eu confio, Senhor, na tua bondade” significa deixar que essa bondade possa vivificar-me como a seiva à videira. Deixar que a bondade me desarme até à indignidade.