
Olho para o advento como o tempo das promessas impossíveis ou o tempo dos escândalos: “Hão-de chegar a Sião com brados de alegria com eterna felicidade a iluminar-lhes o rosto”. As promessas de Deus acerca do futuro ultrapassam com à-vontade toda e qualquer utopia política. Deus promete um futuro de paz, de prosperidade, de entendimento. Esse futuro diz respeito a toda a humanidade: cessará o sofrimentos, a dor, a morte. Um dia “Deus será tudo em todos”: o mal e o sofrimento são realidades a prazo. O bem vencerá o mal. Caminhamos, ainda que no escuro breu, em direção um futuro melhor. Tudo o que fazemos de bem acrescenta e apressa esse dia. A força obscena do pecado não é a realidade última.
Paro, desconcertado. Algures, alguém ri. É o riso de Sara, mulher de Abraão, quando lhe dizem que vai ser mãe. Como posso eu, pensa, ser mãe se tenho esta idade tão avançada?
É, também, o nosso riso, incrédulos diante desse futuro messiânico prometido. Sim… nós rimos. “Quando a esmola é grande, o pobre desconfia”. Rimos dos relatos pueris e pitorescos que Isaías antevê. Não há cálculo, racionalidade ou estatística que se mantenha diante dessa disrupção torrencial de felicidade que Deus promete.
Se não ríssemos, seríamos outras pessoas: comprometidos, radiantes de esperança, conscientes do combate diário a travar. Teríamos gosto, sabor, um brilho nos olhos, uma alegria irreprimível, uma esperança de ferro. Mas não: por aí vamos nós, rindo silenciosamente como Sara, entretidos e saciados com medíocres verdades religiosas para sossegar o nosso reduto murado.
Que Deus nos cure “do coração paralítico” para soltar o grito, vasto como os mares: “Oh! Se rasgasses os céus e descesses!”