“Tocam, quando passa, contraditórios clarins
Nenhum o levará à cidade que procura.”
Ruy Belo

“Hei-de atrair ao meu amor a casa de Israel”, diz o amante. Atrair… criar artes, manhas, sinais, para que o passante distraído, cabeça baixa, polegar em movimento, atente que está a ser chamado. Não apenas chamado, mas, como um íman, puxado para alguém. Atraído para o amor, afinal a única realidade que presta. E o nosso distraído, solicitado por tantas vozes, aliciado com tantas promessas, venerado lamentavelmente como um pequeno e caprichoso rei, regressa a casa com um amargo na boca. O amante lá vai acenando, discreto e silencioso, apontando à ovelha o pasto verde, o sossego, o regaço de um colo.
O amante levanta os olhos e vê a multidão inquieta: só ele sabe os abismos secretos do coração dos passantes, a dor escondida, a espera adiada, a desilusão. Ele tão só quer falar ao coração, soprar a palavra do alento e da misericórdia.
Oseias 2,16.17b-18.21-22.