O maior presente

Existe um livro, cheio de boas notícias, que tem lá esta frase: “Não vos preocupeis, pois, com o dia de amanhã: o dia de amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia basta o seu cuidado.”. (Mt 6, 33) Só poderemos algo no agora. Os nossos “poderes mágicos” só funcionam no instante presente. Até quem tenta acertar num futuro melhor, só pode prepará-lo dentro de um agora.
Um excesso de remorsos por aquilo que foi mal feito no passado e um excesso de ansiedade pelos monstros que nos podem aguardar escondidos no futuro, são as receitas infalíveis para boicotar o sabor e os efeitos do presente. Uma cura só pode ocorrer num presente, num momento. E a cura para a vida pertence àqueles que têm fé na vida.
Esta parábola oriental vai no mesmo sentido:
Um simples homem, na Índia, percorria altas montanhas por estreita vereda quando se deparou com um tigre que, esfaimado, lhe barrou o caminho. Correu sem destino, sem saber para onde o fazia, aproximando-se de precipício mortal. Sem alternativa, viu as raízes de uma videira expostas. Pendeu-se numa com a mão direita e noutra com a esquerda. Mesmo por cima de sua cabeça, sem o alcançar, o tigre impaciente movia-se em círculos. Logo em baixo, no fundo da ravina, outro tigre aguardava a queda da apetecida presa. Continuou firmemente preso às raízes. Mas para seu espanto e desvario, dois ratos, um branco e outro preto roíam com vigor, um a raiz direita e o outro a esquerda. No desespero de morte iminente os seus olhos quedaram-se num morango esplendoroso e resplandecente que pendia à sua esquerda. Amparando-se com a mão direita, colheu-o, levou-o à boca e exclamou: – Que delícia, saboroso…
Paulo Farinha