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O problema com o piso -1

O texto que transcrevo abaixo confirma na perfeição aquilo que penso e sobre o qual tenho escrito neste blogue: somos seres desassossegados. O medo, a ansiedade, a culpa, são verdadeiros existenciais da nossa condição humana. Lavram-nos por dentro, operam a um nível muito mais difuso e pervasivo do que podemos supor. Com certeza que somos funcionais: cuidamos da família, trabalhamos, divertimo-nos, realizamos as operações básicas quotidianas. No entanto, somos roídos por dentro. A experiência da prática da meditação mostra-me à saciedade como, no dia a dia, a mente humana se encarrega de obliterar este desassossego existencial. No silêncio repetido diariamente, faço a experiência de perceber como corre em mim esse rio subterrâneo de medo, ansiedade, desassossego. E, repito, com certeza que sou funcional. A verdadeira pergunta, no entanto, é: que preço estou disposto a pagar para ser implacavelmente livre e profundamente feliz? Dante e Vergílio desceram ao inferno antes de subir ao céu.

O medo está na superfície da consciência e existe uma força inconsciente mais profunda que é a ansiedade. A ansiedade não é específica, é vaga, é sentida como uma espécie de medo geral de algo novo ou potencialmente ameaçador. A ansiedade tende a isolar-nos e a impedir-nos de arriscar algo novo. É vaga, mas tem um nível baixo – ou alto – e um estado de funcionamento constante. (…) E ainda mais profundo do que a ansiedade é o que podemos chamar de pavor. Esse pavor é um sentimento de que o nosso destino está condenado, que haverá um resultado terrível e cataclísmico no final da história. (…) Assim, cada uma destas forças negativas do inconsciente, coletivamente chamadas “medo”, afetam o corpo. Elas são controladas pela amígdala, aquela parte muito primitiva do nosso cérebro que emite hormonas de stress como o cortisol que nos preparou quando éramos caçadores-coletores com um ritmo cardíaco mais rápido e aumentando a nossa pressão sanguínea e fazendo-nos piscar muito os olhos. Estes foram os preparativos para o corpo lutar ou fugir. É uma reação muito primitiva perante a vida. O problema surge quando estas respostas não se relacionam com a realidade, quando se tornam permanentes. É como se a máquina ficasse presa e se repetisse numa nota negativa. Se estiver neste estado de medo, então pode sentar-se com um amigo ou terapeuta e eles podem ajudá-lo a ver e compreender que tudo isto não está relacionado com a realidade. Tudo isto se deve a acontecimentos passados na sua vida. E isso pode ser o início de um processo de libertação. Mas a libertação tem de surgir num nível mais profundo.

Laurence Freeman

https://mailchi.mp/wccm/daily-wisdom-393126?e=5fa31a93c3

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