
Ao acabar o livro sobre o eremitismo, tornei-me amigo de vários deles, particularmente dos eremitas japoneses que, ao longo dos séculos, povoaram montanhas e planícies, mergulhados na natureza. Ao ler o relato de um deles, consigo vê-lo na sua pequena cabana com a janela aberta para a beleza luxuriante de árvores e plantas. Tem os olhos fechados, nessa tarde em que nada nem ninguém está próximo. Numa calma e paz de outro mundo, de que ao menos uma vez na vida nos abeirámos, o eremita ouve a chuva tombar. Não há pressa; o seu pensamento é calmo como um lago. Totalmente serenado vive plenamente.
Nesta noite em que escrevo estas linhas, sei que espalhados pelo mundo, aí estão eles, as sentinelas do mundo a vir, os que vigiam sobre o seu coração e o coração do universo. Sei, também, que quando os dias pesarem ou o lixo, que volta sempre como a maré cheia, tomar conta do meu coração, posso simplesmente fechar os olhos, sentar-me no chão, junto de Ryokan ou Basho e, com eles ouvir a chuva batendo as folhas, limpando, lavando, abrindo a porta para a plenitude.