I

Agora que o ano está a terminar, atravessa o meu espírito, ainda que distante, o sofrimento do mundo. Não falo do mais visível ou mediático. Falo da solidão: de querer ter amigos, estar na flor da vida e não haver ninguém. Estar simplesmente sozinho. Falo de quem cuida de uma pessoa de família, anos a fio, esses seres maiores do que o que de mais nobre existe na terra. Falo de quem vê uma, duas, três pessoas da sua própria família a definharem para a doença incurável. Falo destoutra que me dizia sofrer desde os seus dezoito anos.

Enquanto isso, a minha casa está quente. Nada me falta: afeto, amor, serenidade, beleza, alimento, calor. Não me sinto culpado e, sim, sou abençoado. Apenas não consigo viver “como se…” a dor do mundo não existisse. Não quero que me baste o “eu e a minha circunstância”. Trago, de novo, à minha memória, quem dera ao coração, o grito de santa teresa de ávila: “Não durmais porque não há paz sobre a terra.”

Talvez seja esse o meu voto para dois mi e vinte e dois: viver de olhos bem abertos, aliviar esta e aquela dor, alargar sempre mais a fronteira do coração, alargar a roda. Talvez seja exatamente esse o melhor programa para dois mil e vinte e dois: alargar a roda. De olhos abertos e mãos generosas.

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