Cinco pensamentos

I
A locomotiva vertical, encontrei-a na música da banda 21 Pilots chamada “Screen”. A um dado passo o autor fala desta locomotiva que desce do céu: uma metáfora poderosa para falar do movimento de aproximação do céu à terra. A locomotiva evoca rapidez, urgência, é quase imbatível nos obstáculos que encontra na sua passagem. Deve ser com essa força, essa urgência, quase essa prepotência que o céu se quer aproximar da terra e o faz inacreditavelmente com Jesus. Que se renovem as metáforas e a linguagem com que queremos falar e aproximarmo-nos do divino.


I can’t see past my own nose, I’m seeing everything in slo-mo
Look out below crashing down to the ground just like a vertical locomotive
That’s a train, am I painting the picture that’s in my brain?
A train from the sky, locomotive, my motives are insane
My flow’s not great, okay, I conversate with people
Who know if I flow on a song I’ll get no radio play
While you’re doing fine, there’s some people and I
Who have a really tough time getting through this life
So excuse us while we sing to the sky

II
Refletia sobre onde tinha ou estava a encontrar beleza. Recordei o vento nas árvores de manhã quando tinha ido caminhar; A luz desmaiada do inverno que entrou na sala, o céu estrelado antes da primeira luz, um ninho bem perto da janela, um presente inesperado. E esta música que agora escuto.
Tudo coisas belas que falam e pedem resposta.

III
Um amigo do coração trouxe a notícia de uma rapariga que está com leucemia, sem esperança de viver muito mais. Tem dezasseis anos. Ouço a notícia e trago-a para dentro. É o momento de tomar uma decisão: deixo que esta notícia me desloque ou, simplesmente, arrumo-a nalgum canto piedoso e prossigo viagem, relativamente incólume?
É sempre este o dilema: há notícias de sofrimento que desfazem as frágeis categorias com que vou murando a minha existência. O que é que este caso trágico de uma rapariga que já deixou os tratamentos, por inúteis, e que vem agora passar o Natal com os seus pais, o que é isto me está a dizer? Ou, de outra forma o que é que Deus, o Cristo, a vida, o que quer que seja que tenha uma linguagem, me estão a dizer? Num verso do antigo testamento o autor diz: “como tecelão, eu tecia a minha vida, mas cortaram-me a trama”. Há factos que provocam um abalo nos fundamentos. Não sei se um abalo, se mesmo a sua destruição. Nesses momentos, por quem passa por eles, deixa-se simplesmente de viver a vida de acordo com a “pauta” que grupos e sociedades partilham, mas entra-se na grande noite onde não há ombro ou mão amiga que aliviem o sofrimento em permanente carne viva . Aí se dissolvem como um nada todos os planos, escalas de valores, certezas ou evidências.
IV
O ministério dos pequenos gestos: dispor das mãos, do coração, da vontade para dar de comer e de beber à alma deste e daquele – afinal a forma invisível e tão antiga pela qual o mundo está em permanência a ser salvo e recriado. Que venha essa insurreição.
V
Disseram-mo um dia e gravei-o: “Há linhas paralelas que nem no infinito se cruzam. Que o teu olhar voe sempre mais altos que as águas turvas do quotidiano.

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