
Esta expressão traduz uma realidade subterrânea que me habita e, creio, habitará o estimado leitor.
A um nível mais à superfície (e não superficial), diria que todos somos seres dotados de razão e inteligência; fazemos escolhas e tomamos decisões pesando os prós e os contras de acordo com a nossa perceção, a informação que temos disponível, a cultura, a sociedade e o meio social em que nos inserimos. Por regra, desconfiamos de decisões impulsivas, precipitadas ou intempestivas.
Como filhos do Iluminismo e Positivismo que somos, olhamos para o mundo e encontramos nele ordem, regularidade nos seus ritmos e ciclos. Não acreditamos no pensamento mágico. Estamos confortavelmente apoiados na ciência que vai progressivamente explicando aquilo que, em tempos remotos, era atribuído ao Transcendente, a forças mágicas ou obscuras.
Considero-me uma pessoa deste tipo, tirando ou pondo alguma coisa. E, no entanto…
… alguma em coisa em mim, para cá ou para lá do aparato racional, está vinculada ou presa ao destino.
O destino, o “fatum” latino ou a “moira” grega, é simplesmente a crença que existe uma força cega e arbitrária, exterior a mim que me comanda e à qual não consigo escapar. É assim que na mitologia grega, Édipo não consegue fugir ao destino que escreveu que iria matar o pai e dormir com a sua mãe. Ele bem tenta fugir, mas o “destino estava traçado”. Saltando no tempo para o século XX, o filme: “Os agentes do destino” falam de um candidato destinado a ser presidente dos EUA e que luta contra o destino em nome de amor que descobre e vem altera os planos, traçados precisamente pelos “Agentes do Destino”.
Através de dois exemplos bem distantes no tempo, é para mim claro que este tema, de tão profundas consequências na liberdade e livre-arbítrio da pessoa, é demasiadamente sério e duradouro, para que não se possa refletir sobre ele.
Ainda assim, não quero nem tenho a pretensão de poder discorrer sobre o destino, muito menos trazer algo de novo à reflexão. Gostaria apenas de partilhar que, apesar de racionalmente ser claro como a água que não acredito no destino, tanto mais que, como cristão, Deus me criou livre – ainda assim, sei que sou atravessado por pensamentos ou impulsos que “prestam culto” às Moiras gregas. Noto isso quando instintivamente acho que o que irá suceder ocorrerá de forma previsível, repetindo o que já aconteceu; quando olho para a História, o desenvolvimento e progresso da humanidade e parece que existem forças cegas que escapam ao poder humano e divino e que sussurram que não existe direção ou orientação, mas apenas acasos erráticos e sem sentido.
Não sei se nós, portugueses, seremos um caso particular com o nosso “Fado”, mas conheço muitas pessoas que dizem “estava destinado” sobre um dado facto, normalmente uma tragédia.
O Iluminismo e o Positivismo trouxeram o grande império da razão, destronaram a fé e a superstição. A verdade, porém, é que a nível pessoal e no inconsciente coletivo perduram forças rebeldes, cegas, crenças irracionais que tornam bem mais problemático o papel da razão e abrem campo a outras realidades. O leitor tem alguma opinião sobre isto?
Pessoalmente, não tenho quaisquer dúvidas que sendo (como acredito e sinto que É) Deus Amor e que o Amor Liberta, então cada um de nós é totalmente livre. No entanto, a nossa finitude, limitação e uma certa acomodação (em certas situações, é mais fácil pensarmos que não há nada a fazer pois é o destino…) fazem-nos distorcer o modo como olhamos para o que vai acontecendo à nossa volta…
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