Alguns pensamentos

  1. I did it my way”, cantava Frank Sinatra e cantam as vozes da contemporaneidade. Vivi a vida como quis, segui os meus projetos, os meus impulsos e desejos. Os obstáculos que fui encontrando no meu caminho, um a um os fui ultrapassando. Não errarei se disser que esta será uma frase subscrita por muita gente. É louvada a pessoa que lutou, que conseguiu atingir os seus objetivos. Pergunto: e aqueles que foram os “acidentes de percurso” dessa máquina de roçar mato, triturar e semear que dá pelo nome de “a-minha-vontade”? Penso sempre nos que são lançados para a berma, sejam pessoas, classes sociais ou povos, em nome do “my way”.
  2. No post anterior não explorei o meu ponto central: diante do sofrimento do mundo que podemos fazer? Podemos e devemos agir, tomar partido, manifestarmo-nos. Para além disso, e esse era o cerne, poderíamos conformar a nossa vida pela bitola dos que sofrem. E que campo de ação! Deixar que esse grito surdo, penetrasse a nossa escala de valores, os nossas decisões e ações. Optar radicalmente por uma vida de simplicidade, ao mesmo tempo criativa e bela. Somos os “fat cats” do primeiro mundo; o excesso de tudo – de que padecemos – retira-nos energia e disponibilidade para criar e ver o belo. No caminho de Santiago ou na comunidade de Taizé, em França, fiz pequenas experiências desta realidade: é preciso pouco. Viver com simplicidade, sem má consciência ou falsos moralismos; como dizia o Irmão Roger de Taizé “então, brotará uma flor no deserto”.
  3. Dias de calor. Quando viajo de carro, ligo o ar condicionado. A viagem torna-se mais fácil e fresca. Lembro-me, então, que há muitos anos atrás, quando se viajava para o Algarve, se ia de noite! O tempo quente estendia-se por todo o verão e tornava-se insuportável viajar sob o calor impiedoso do Alentejo. A viagem era mais longa e tinha de ser noturna. Desde então, quanto mudou! Onde está a linha vermelha, no progresso e conforto do que usufruímos, entre o que nos faz bem e o que nos faz moles?
  4. Há pessoas com que falo em quem, nos meus sensores ultrassensíveis, intuo a bondade sem fingimento.  São peças sem costura, sem refolhos na alma, transparentes e genuinamente boas. Ao fim de pouco tempo, parece que estou em casa. Infelizmente, são poucas. A maioria habita mundos esquivos, turvos e dúplices. O mundo é um placo, disse alguém.
  5. À medida que vou praticando a minha meditação diária, de manhã e ao fim da tarde, apercebo-me o quanto ela introduz no ritmo acelerado do meu ser uns momentos de descanso e calma. Percebo o quanto ela é necessária e, estranhamente, insuficiente para o tumulto interior que é a minha alma, o meu coração. A viagem de regresso está ainda na sua infância.

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