
Naquele tempo, Jesus disse ainda à multidão a seguinte parábola: «O Reino dos Céus pode comparar-se ao grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. Sendo a menor de todas as sementes, depois de crescer, é a maior de todas as plantas da horta e torna-se árvore, de modo que as aves do céu vêm abrigar-se nos seus ramos». Disse-lhes outra parábola: «O Reino dos Céus pode comparar-se ao fermento que uma mulher toma e mistura em três medidas de farinha, até ficar tudo levedado». Tudo isto disse Jesus em parábolas, e sem parábolas nada lhes dizia, a fim de se cumprir o que fora anunciado pelo profeta, que disse: «Abrirei a minha boca em parábolas, proclamarei verdades ocultas desde a criação do mundo». S. Mateus
A Palavra de Deus é performativa. Significa que aquilo que é proferido, dito ou proclamado é eficaz. A palavra produz o efeito daquilo que a contém. É verdade que, em alguma medida, as palavras humanas têm um certo grau de performatividade. Não falo das palavras do dia a dia mais banais que se esgotam no momento da sua comunicação, mas de outras que têm força, dinamismo: a poesia, a partilha de sentimentos.
De todos os modos, a Palavra de Deus é a palavra performativa por excelência. Essa performatividade não acontece de forma visível ou subserviente à nossa racionalidade. Ela opera de forma impercetível, alheia a cálculos e previsões.
Na passagem do evangelho respeitante ao dia 26 de julho, Jesus continua a comparar o Reino de Deus. (o Reino é a presença atuante de Deus no coração do mundo, na consciência individual, no funcionamento da História nos seus grandes acontecimentos.).
Esse Reino de Deus é comparado a: a) Um grão de mostarda; b) Ao fermento.
A Palavra de Deus é uma bomba lançada quotidianamente sobre os nossos processos mentais, os nossos raciocínios, a forma de nos entendermos a nós e ao nosso mundo. Assim, a partir da leitura do dia de hoje, tomo consciência que existe o Reino de Deus e que este é uma realidade essencial sobre a minha vida, a vida dos cristãos, a vida da Igreja. Como crente, a realidade do Reino de Deus, descentra-me da minha vida particular, com as suas dúvidas, planos, desejos e temores. Jesus diz: o foco da tua vida é o Reino de Deus e não “a tua vidinha”. Ter o foco no Reino não significa que a minha vida deixe de ser relevante. Significa, simplesmente, que os meus pensamentos palavras e ações sejam permeados, embebidos pela realidade do Reino. Verifico que, mentalmente, divido a minha vida entre o religioso e o profano, o espaço onde Deus entra e onde Deus não entra. Exemplo: estou num encontro em que não me apetece estar (ou até me apetece, tanto faz): mesmo que não pense sobre esse assunto, não creio que o RD tenha o que quer que ver com isso, como se fosse um parêntesis pagão ou como se apenas nos meus momentos de meditação ou de participação nos sacramentos ou nalguma relação humana mais significativa, Deus estivesse presente. Os jesuítas dizem: “ver Deus em todas as coisas”. É isto que deve acontecer. Nos acontecimentos em que instintivamente reputo como “pagãos”, alheios a Deus, sou eu que estou fora desse acontecimento, ainda que, no limite, possa até estar humanamente no centro. Assim, o grão de mostarda ou o fermento aí estão e Deus pede-me que esteja em cada momento, disponível para acolher cada acontecimento como um momento do movimento do Reino. E pergunta-me se quero entrar nesse dinamismo e ver todas as coisas em Deus ou se, simplesmente, continuo a dividir a minha vida entre Reino e Deus e Reino do Ego.
O Reino de Deus pode ser o Aqui e Agora. Deus dá-nos constantemente a oportunidade de, a cada instante, Viver o Construir o Seu Reino. Assim o queiramos segundo a nossa Liberdade e Vontade!
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