Viver o infinito
É curioso como afirmações antagónicas, podem, no entanto, ser todas verdadeiras, como acontece com os pontos de vista que são fruto da posição de cada observador. A lua é ligeiramente desigual aos olhos de quem vive nas diferentes partes do mundo. E mais do que conterem parte da verdade, essas afirmações antagónicas podem mesmo complementar-se e aproximar-se mais do inalcançável horizonte da verdade.
Vem isto a propósito dum poema em que tropecei e que afirma algo tão diferente do “Carpe Diem” da moda. Diferente do aproveita o momento presente, vive o aqui e agora, o passado já se foi e o futuro ainda não existe…
“As aventuras não têm tempo, não têm princípio nem fim.
E meus livros são aventuras, para mim são a minha maior aventura.
Escrevendo, descubro sempre um novo pedaço do infinito.
Vivo no infinito, o momento não conta”.
(João Guimarães Rosa)
De facto. é importante não desperdiçar nada do presente mas também se esse presente tudo absorve e concentra, mesmo a possibilidade de ter uma direcção, então isso não será tão meritoso como aparenta. Teremos capacidade de estar, já, no infinito? Perscrutar esta hipótese é fascinante. Tentar descobrir qual o cheiro da estrada para além do que se vê nesta curva do caminho. Tudo indica que a estrada continua porque até aqui, sempre houve estrada.
Podemos ouvir aqui Maria Betânia durante um minuto:
Paulo Farinha