A voz aos amigos (XVIII)

De vez e quando fico parado no Restelo e penso no sentido e no não sentido das caravelas que partem…

Às vezes penso que o progresso que ambicionamos e que a História nos vai relatando nos afasta de nós mesmos. Queremos desvendar os mistérios do universo e permanecemos desconhecedores do nosso próprio mistério. Fomos até à lua e não encetamos viagens ao centro de nós mesmos.
Quando frente ao mar, no meio da floresta ou do cimo do monte sou transportado à originalidade e essência das coisas e penso o quanto de tranquilidade e felicidade aí se alcançam, questiono-me sobre a possibilidade de outros caminhos.
O desejo e o investimento do e no progresso ocupa tanto as nossas vidas que já quase não há tempo para ir sozinho ou acompanhado ao cimo do monte…
Ir ao cimo do monte e encher o peito de ar, não poluído e o olhar, de imensidão, faz-nos falta!

O progresso é bom! Dizemos!
Muitos se perguntam: a que custo?
Destruição e exploração desmedida dos recursos naturais e consequentes transformações climáticas, guerras por questões de domínio e interesses pessoais ou grupais, o fosso cada vez maior entre aqueles que tudo têm e aqueles a quem tudo falta…

Não sei se o progresso como o entendemos corresponde ou responde ao nosso anseio de pessoas plenas!? Afinal são tantos os que sofrem de pobreza e, andam tristes e cansados aqueles a quem nada falta, mas que se perdem de si.

Ir ao cimo do monte, diante do mar, dentro da floresta tranquiliza-nos e faz-nos felizes. Há ali um pulsar que nos ajuda a ir ao centro de nós, onde o nosso próprio mistério se desvela, afinando-nos e revelando as prioridades.

Tó Zé Rocha

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