From gangland to Promised Land

Pode a vida de uma pessoa mudar de forma radical, profunda e visível? A. Ramos Rosa diz: ”Será que posso ser o que nunca fui/ e que nunca julguei que poderia vir a ser?” Esse é o anseio que repousa sereno, mas prepotente no fundo do ser: há sempre um conflito e uma dessatisfação connosco mesmos. Não sei se isso sucede por passarmos demasiado tempo com a nossa própria pessoa e, no fundo, querermos “ser outro constantemente” … Ao mesmo tempo, é como se tivéssemos uma mão invisível a tapar a boca e, ao mesmo tempo, o sussurro: nunca sairás da cepa torta. Há quem diga que o pior inimigo somos nós mesmos…
Por vezes, há mudanças extraordinárias na vida de pessoas. Elas podem acontecer em sentidos diversos e mesmo opostos: o pacato jovem inglês da classe média que engrossa as fileiras de um exército terrorista; a pessoa que altera os seus hábitos alimentares por ter abraçado o modo de vida vegan ou o acumulador que descobre as maravilhas do minimalismo, são possíveis exemplos.
Em sede do Cristianismo, chamamos a essa mudança ‘conversão’, palavra que vem do grego metanoia. Esta palavra traduz uma mudança profunda no orientar, valorar e agir na vida, significando, portanto, um nascimento para uma vida nova. A história da Igreja está cheia desses casos: pessoas que abandonam títulos nobiliárquicos, riqueza e fama, carreiras profissionais auspiciosas, e até a “carreira” de perseguição e aniquilamento de cristãos, como é o caso de Paulo de Tarso. Gosto especialmente do caso de Agostinho de Hipona, o debochado, que a dado momento dobra uma esquina na sua vida que o levará para paragens e paisagens insuspeitadas.
Não sei se estou errado, mas creio que os cristãos não levam a sério o “tremor de terra” que é a experiência de conversão. Reduzimos a Quaresma à renúncia do quadrado de chocolate e, basicamente, achamos que somos boas pessoas, portanto não precisamos de mudar grande coisa.
Eppure…
… de vez em quando surgem histórias de conversão arrebatadoras: não na França rural no século XIX mas na Londres cosmopolita do século XX. É o caso do senhor que dá título a esta crónica.
Um gangster que, um dia, virou a sua esquina, se converteu à fé cristã e é hoje um ministro do Evangelho, tendo já participado numas Jornadas Mundiais da Juventude! Que história maravilhosa. Ei-lo na primeira pessoa:
“Foi nesses clubes que conheci alguns dos homens que lideravam a maior parte do crime organizado em Londres e comecei a trabalhar para eles. Não muito tempo depois, deixei de trabalhar para eles e comecei a trabalhar com eles. Vivi o estilo de vida de um verdadeiro gangster, com muito dinheiro, drogas e mulheres.”
Uma noite, estava a trabalhar num dos clubes que tínhamos na parte ocidental de Londres e bati num homem com uma soqueira. Quando lhe bati, ele caiu imediatamente para trás e bateu com a cabeça na berma do passeio. Vi sangue por todo o lado e as pessoas à volta começaram a gritar. Abandonei, então, o local e lembro-me de estar no carro a caminho de casa e pensar: “Posso ir preso por 10 anos por isto.” Lentamente, apercebi-me que podia ter matado alguém e que não me importava. No passado, eu importar-me-ia, eu queria fazer a diferença, mas aqui estava eu, agora, destruindo todos à minha volta. A única pessoa com quem eu me importava era eu próprio e não pensava que isso pudesse alguma vez mudar.
Cheguei a casa e ouvi uma voz que falou do meu coração, é uma voz que todos nós conhecemos, a nossa consciência, Deus dentro de nós.”
Não me alongo a comentar esta história de conversão, tão poderosa por si mesma. Apenas digo que há bem mais histórias de bem, de amor, de ressurreição “than meets the eye”. Uma bofetada ao cinismo pervasivo que inunda até a alma.
(Mais abaixo, partilho um texto escrito pelo John Pridmore sobre o seu processo de conversão e um link para um vídeo. Vale bem a pena.)