




Esforço-me por afastar a areia que esconde o brilho do oiro. É fácil, neste dia, dizer que nada de especial aconteceu. Dizer que foi mais um dia de trabalho. Chego ao final do dia já cansado e o corpo ditador pede cama.
Devo, ainda assim, lançar um olhar para trás e descobrir uma pequena pérola que seja que tornou este dia de gestos e rotinas repetidos, num momento especial.
Olha, e aqui está: a ida a uma loja diferente de outras lojas. Neste caso, vende produtos biológicos: dezenas de boiões com especiarias, pós de caráter e efeito diverso, chás aromáticos de paragens exóticas, fruta e legumes feios, mas saborosos. Apreciei a decoração, a simpatia do atendimento. Sei que são três irmãos, vegans, e com vontade de reduzir ao mínimo o uso de plástico. Tudo bons motivos para comprar produtos que são, naturalmente, mais caros que noutras superfícies.
Fiquei sensibilizado com o arranque desta loja em tempo de pandemia. Apreciei à vontade de pôr em prática convicções que não apenas ganhar dinheiro. Sintonizei com a decoração, as cores vivas de alguns produtos. Fiquei com vontade de regressar.
Saio da loja e regresso a casa. Que posso fazer para que este momento de brilho num dia “normal” não se perca? Como posso trazê-lo a lume, acomodá-lo no meu espírito? Bastaria tê-lo simplesmente vivido ou será que o facto de neste momento o trazer à consciência aviva o seu valor? Há o acontecimento e, depois do acontecimento (ou durante o acontecimento), o lembrar o acontecimento. O primeiro é já bom, o segundo é sugar o tutano. Fazer memória é sempre acrescentar sabor ao sabor.
Bom dia! Obrigada pelo texto, sempre inspirador. E onde fica o espaço?
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Olá, Maria. Fica no Porto: https://www.instagram.com/mercearia100saco/
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