Memento mori

Falar do luto é falar da morte. E falar da morte é falar da vida e do modo como nos preparamos para ela. É também lembrar os mortos, os meus mortos.

Falar da morte significa aceder a um nível de diálogo e de partilha onde nos aproximamos mais uns dos outros, onde partilhamos de forma mais visível o que é essencial na nossa condição: estamos vivos, mas um dia morreremos. E, na realidade, é a partir da morte que devemos falar da vida e que devemos interpretar e executar a nossa vida.

Não podemos viver como se fôssemos eternos, como se fôssemos omnipotentes, como se a morte fosse um tabu. E a primeira preparação, a primeira gramática para falar e viver a morte, relaciona-se com o modo como vivemos.

Há uma sabedoria que os místicos e santos cristãos nos têm para oferecer: eles meditavam sobre a morte para viver melhor.

Falar de luto e de superação diz respeito a pessoas que passaram pela minha vida e que morreram… umas cumprindo integralmente o ciclo da vida, outras levadas a meio ou na mais tenra infância; umas, de forma abrupta e repentina, outras de forma previsível. Umas por doença, outras por acidente. São pessoas que deixam a marca e o vazio, e num caso particular, a sensação física, real, palpável, de um pedaço de carne arrancada a frio.

O que se deve poder dizer das mortes? Nem sei se alguma coisa pode ser dita. A morte a presença da morte em si mesma é para ser sofrida, não para ser contada. Mas não posso esquecer uma frase da carta aos Hebreus quando afirma: “Todas estas coisas aconteceram para nos servirem de advertência”.

“Memento mori” – lembra-te que um dia morrerás.

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