A voz aos amigos (VII)

As palavras

As “palavras” fazem parte do nosso dia-a-dia quando falamos, escrevemos ou lemos. Sabemos que a palavra é poderosa e desencadeia mil ações, sentimentos e reflexões. Sempre me ensinaram a ter cuidado com o uso das palavras e assim o tenho feito ao longo da minha vida, no entanto, nunca ninguém me ensinou como lidar com as palavras que magoam. Tenho lidado à minha maneira com essas palavras e refletido muito sobre o assunto, sem, porém, encontrar uma solução. As divagações têm, contudo, sido abundantes e contínuas. Partilho com vocês algumas delas:
As palavras que magoam, para que é que servem? Não têm utilidade alguma, simplesmente, não deveriam existir. O ideal seria vir um vento forte e levá-las para longe, muito longe. Mas também não é boa ideia porque teriam de ir parar a qualquer lado e, onde pousassem, iriam magoar quem as acolhesse ou quem lhes desse ouvidos.
Se calhar a chuva poderia apagá-las, como faz com as palavras escritas nas paredes ou em papel. As gotas insistiriam, insistiriam em cair nas palavras que magoam até apagá-las de vez.
Mas as palavras que magoam não se deixam apagar facilmente, muito menos com a chuva, são resistentes e impermeáveis. Estão bem escondidas e protegidas, mas sempre à cuca de uma oportunidade para atacarem e deixarem as suas marcas.
E se fossem comidas por um ogro? Sim, porque é necessário de um ser vivo muito grande e forte para comer tais palavras, espaçosas e pesadas. Pobre ogro, iria comê-las com muita vontade e satisfação, no entanto, muito depressa iria sentir-se agoniado com as palavras no seu estômago, que iriam tentar travar caminho dentro dele e apoderar-se do seu ser.
Já não sei o que fazer com as palavras que magoam. Tenho dispensado mil pensamentos sobre como irradiá-las do nosso dia-a-dia, do nosso mundo, e só vejo uma solução: deixar de dar-lhes vida ao dizê-las.

Susana Oliveira