
“Muito poucas palavras autênticas são partilhadas cada dia, mesmo muito poucas. Talvez tenhamos de nos apaixonar para finalmente começarmos a falar. Talvez abramos um livro para finalmente começar a ouvir”.
Christian Bobin
Dentre as palavras que dizemos, quantas revelam o ser? Quantas das nossas palavras são verdadeiras? E, dessas, quantas desvendam algo do nosso ser? À medida que os anos passam, constato que as pessoas praticam a “arte do ocultamento do ser“: falar de tudo e de nada durante muito tempo, muitos dias, muitos anos, enquanto o mundo interior, vasto e profundo, permanece fechado. Tolentino Mendonça lamenta: “Falámos só de coisas inúteis/ e o mundo inteiro se escondia“.
Pode ser uma opção, se a pessoa escolhe não abrir o seu ‘jardim secreto’ a outros. Mais assustador, é sermos habitados por esse mundo e nem nós dele termos notícia.
E quando somamos pessoa com pessoa, geramos grupos e grupos criam sociedades. É impossível viver uma vida comum de mentira: a vida onde as verdadeiras máscaras, invisíveis, não desaparecem do nosso rosto.
Mas quando palavra e verdade se enlaçam, alguma coisa em nós vê a luz do dia, alguma coisa é resgatada da morte .