
Ao ouvir, esta manhã, uma longa entrevista com Woody Allen (aqui) saltou à vista o desconforto existencial deste homem que considera a vida desprovida de qualquer significado, detesta a natureza por ser impiedosa face ao homem, e não gosta de animais nem da luz do sol. Como é que ele procura lidar com tudo isto? Distração: quando vemos um filme ou desporto na televisão e mergulhamos no que estamos a ver, temos um certo alívio face a uma espécie de dor de cabeça crónica que atravessa a existência: “in the end it is a bad deal that we got, and all you can do is to distract yourself.”
Eis uma forma de ver o mundo que desfia uma outra, a “açucarada”, que acredita que a felicidade é possível como estado constante, duradouro e crescente. É fácil desdenhar da visão negra do realizador americano, mas é igualmente fácil cair nas múltiplas balelas sobre a felicidade (“tu podes ser o que tu quiseres”), quando a vida é uma aventura perigosa e incerta, quando temos tantas vezes de carregar o fardo que somos nós mesmos e quando o sofrimento de tantas pessoas parece interminável.